Não ter vergonha de falar sobre sexo com os filhos evita que jovens se exponham a riscos Leia mais
Em São Paulo Conversar com os filhos adolescentes pode ser, para
muitos pais, uma tarefa árdua. Quando atingem certa idade, muitos jovens
se fecham para a família e buscam nos amigos os novos confidentes, com
quem vão compartilhar suas experiências e sentimentos. Nesse cenário,
sexo pode se tornar o mais espinhoso dos assuntos. Mas, apesar das
dificuldades que muitos adultos ainda têm de falar abertamente sobre
esse tema, é responsabilidade deles garantir que seus filhos iniciem a
vida sexual seguros e bem informados. A Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo) realizou neste ano uma pesquisa –em parceria com a Bayer–
sobre a vida sexual dos adolescentes de São Paulo, Belo Horizonte,
Recife e Curitiba. O estudo, divulgado em setembro, revelou que mais da
metade dos jovens entrevistados iniciou a vida sexual até os 17 anos e
73% deles não usaram nenhum tipo de contraceptivo em sua primeira
relação sexual. Segundo os especialistas consultados pelo UOL Gravidez e
Filhos, a falta de informação ainda é um grande fator de risco entre os
jovens, apesar de sexo estar em todos os lugares, das novelas à música
pop.
Para Cláudia Bonfim, vice-presidente da Abrades (Associação
Brasileira para a Educação Sexual), os adolescentes hoje conhecem bem a
parte “operacional” do sexo, sabem como fazer, conhecem posições, mas
não entendem como usar preservativos e anticoncepcionais e não sabem
lidar com o aspecto emocional. Mas falar sobre sexo não é apenas listar
problemas como gravidez e doenças sexualmente transmissíveis e explicar
como evitar. Prazer, responsabilidade e sentimentos também fazem parte
da educação sexual e devem ser tratados em casa. “Os pais não podem
privar o filho dessas informações e não podem acreditar que ele vai
aprender em outro lugar”, diz Cláudia. Desde a infância É unanimidade
entre os especialistas consultados que a educação sexual começa na
infância e, desde as primeiras demonstrações de interesse do filho, os
pais devem se mostrar abertos a essa conversa. Quando a criança fizer
uma pergunta, a resposta deve ser simples e fechada naquela questão, sem
partir para lições completas sobre sexo que ela pode não entender ou
não estar interessada.
Mas esclarecer a dúvida é importante porque, segundo Sylvia Faria
Marzano, terapeuta familiar e sexual, a cumplicidade começa a nascer aí e
a abertura para conversar quando o jovem começar sua vida sexual vai
depender de como o tema foi levado pela família desde o início. “Se os
pais forem verdadeiros, cada vez mais a criança confiará neles”, diz.
Quando a criança estiver para entrar na puberdade, entre os nove e dez
anos, o diálogo pode ser ampliado, preparando os jovens para as mudanças
que eles vão começar a enfrentar. “A primeira coisa é explicar o que
vai acontecer com o corpo, como vai mudar, contar que vão nascer pelos,
que a menina vai menstruar e que a partir daí ela poderá engravidar”,
declara Cláudia Bonfim. Esse também é o período adequado para a
visita ao médico, o ginecologista no caso da meninas e o urologista, no
dos meninos. “É importante que a garota aprenda como ela é formada,
sobre menstruação, masturbação, corrimento. Então, na adolescência,
quando já tiver pronta para iniciar a vida sexual, pode começar usar
métodos anticoncepcionais”, afirma Sylvia. Entre os meninos, um
especialista pode ajudar a esclarecer medos e inseguranças em relação ao
tamanho do pênis e masturbação. “É importante que os jovens entrem
sozinhos no consultório médico. Depois, o profissional poderá conversar
com os pais para acalmá-los”, diz a terapeuta. O médico pode também
conversar com pais e filhos sobre a vacina contra o HPV, vírus
transmitido sexualmente que, segundo o Instituto Nacional de Câncer
(INCA), está associado a câncer de colo do útero, vagina, pênis, ânus e
boca.
A imunização é recomendada a partir dos nove anos e, para que seja
mais eficaz, deve ser feita antes do início da vida sexual. Diálogo
constante Quando chega a adolescência e os jovens começam a demonstrar
interesse por alguém e ter suas primeiras experiências –sejam as
ficadas, os rolos ou os namoros–, os diálogos dentro de casa precisam
ser constantes, mas nunca diretos ou invasivos. “A pior coisa é quando o
pai tenta confrontar, mesmo que de forma carinhosa, fazendo perguntas
que deixam o jovem constrangido, como ‘E aí, já tem pelo?’ ou ‘Já
transou?’”, diz Maria Helena Vilela, especialista em sexualidade humana
do Instituto Kaplan (Centro de Estudos da Sexualidade Humana). Para ela,
a melhor forma é entrar no assunto contando alguma coisa sobre sua
própria adolescência. Pode mencionar uma dúvida que tinha em determinada
idade ou comentar um artigo ou livro que leu. As perguntas devem ser
feitas de maneira geral: se as coisas mudaram hoje em dia, se o filho
tem amigos vivendo situações semelhantes a que você comentou ou o que
ele acha do assunto. O ideal é não questionar a experiência pessoal
dele. Quando estiverem assistindo à TV juntos, também vale usar os
exemplos retratados na tela para puxar o assunto. Outro ponto importante
é não tornar a conversa um monólogo, jogando informações de maneira
mecânica e esperando que elas sejam simplesmente absorvidas. “Uma das
dificuldades dos pais é saber como está o próprio filho. Eles querem
passar a informação e ser ouvidos, mas não querem conversar sobre as
dúvidas e as experiências, pois ficam constrangidos”, diz Maria Helena.
Para Sylvia Faria, o principal erro dos pais em lidar com a iniciação
sexual dos filhos é fechar os olhos e acreditar que ela não acontecerá
na adolescência. Outro grande equívoco é impor proibições com a intenção
de impedir que os jovens façam sexo, como não deixar chegar tarde em
casa ou não dormir na casa do namorado, afinal eles podem transar
durante o dia e em outros locais. “É muito importante que se coloquem
limites, mas a proibição sem razão, o ‘porque eu não quero’, não
funciona. Ganhe a confiança do jovem por meio de exemplos e acolhimento
dos fatos que eles trouxerem, sem espanto, sem tabus, procurando não
passar para os filhos que sexo é sujo e errado.” Preservativos devem
ser colocados à disposição dos jovens, para caso eles venham a transar, e
a importância do seu uso precisa ser explicada mostrando a eles como
uma gravidez precoce e uma doença podem atrapalhar seus planos e sonhos
para o futuro. “É imprescindível passar a noção do sexo com
responsabilidade, pois o adolescente tende a ver o mundo apenas pelo
prazer e não pela razão. Esse é um dos motivos que causam o alto índice
de gravidez na adolescência”, diz a sexóloga Walkíria Fernandes. Sylvia
Faria afirma, também, que as pressões sociais, em especial da
adolescência, devem ser abordadas pelos pais, reforçando nos filhos a
segurança de que ninguém deve transar se não tiver vontade: tanto as
meninas, que não precisam fazer sexo como prova de amor, quanto os
meninos, que não devem provar masculinidade. “É importantíssimo passar a
noção de sexo com liberdade. Liberdade não apenas de dizer sim, mas,
principalmente, de negar quando não houver desejo”, diz a sexóloga
Walkíria Fernandes. Além de desejo, o prazer também deve ser conversado e
um assunto que precisa ser enfrentado pelos pais é a masturbação, que
influenciará a vida sexual do filho pelo resto da vida. Para as jovens
mulheres, em especial, esse é um grande tabu. “As meninas precisam saber
que a masturbação é importante para que elas tenham prazer na vida
sexual. Muitas mulheres não têm orgasmos porque não conhecem o próprio
corpo”, diz Cláudia, vice-presidente da Abrades.
Vergonha Se o adulto sentir muita dificuldade em falar sobre sexo com
seu filho, outras fontes de informações podem ajudar a quebrar o gelo.
“Deixar um livro na cama, dizer que o filho deve ler, que é importante
para ele, e se colocar à disposição para responder as dúvidas que ele
tiver”, fala Cláudia Bonfim. Já a internet é um meio que pode tanto
ajudar quanto atrapalhar. Há sites com informações corretas e canais
para que o jovem tire dúvidas com profissionais, porém, na prática, o
que os adolescentes mais procuram é pornografia. Para impedir que a
visão dos filmes adultos influenciem a formação dos filhos, é função dos
pais mostrar que o sexo tem significado afetivo. “Não estamos falando
de amor eterno e casamento, mas de respeito, carinho e admiração e de
não usar o outro como objeto sexual”, diz Cláudia. “Pais costumam pensar
que se falarem no assunto com os filhos isso despertará neles uma
prática sexual precoce. O que ocorre é justamente o contrário: quando há
conversa e informações de forma natural, o adolescente torna-se capaz
de evitar situações desfavoráveis a ele e passa a ficar protegido”,
afirma Walkíria. - Fonte:
Juliana Zambelo Do UOL,
Leia mais em: http://noticias.bol.uol.com.br/entretenimento/2012/11/16/nao-ter-vergonha-de-falar-sobre-sexo-com-os-filhos-evita-que-jovens-se-exponham-a-riscos.jhtmJuliana Zambelo Do UOL,
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