MUNICÍPIOS SEM EMENDAS PARLAMENTAR
84% das cidades ‘sem emenda’ têm menos de 10 mil habitantes -
Nova América está entre eles
Estudo da CNM revela que 32 municípios do Paraná ficaram dez anos sem receber verbas propostas por parlamentares em Brasília
David Fleischer, professor da UnB: "Tem alguns esquecidos e outros beneficiados demais"
Dos 32 municípios paranaenses
que não receberam nenhuma emenda parlamentar de 2002 a 2012, segundo a
Confederação Nacional dos Municípios (CNM), 27 têm menos de dez mil
habitantes. Quatro encontram-se na região do Norte Pioneiro: Nova
América da Colina, Santa Cecília do Pavão, Santa Amélia e Rancho
Alegre.
O levantamento da CNM foi divulgado na última semana e diz que
629 cidades no Brasil não receberam nenhuma emenda individual por parte
dos parlamentares em Brasília. Todos têm menos de 50 mil habitantes.
A ideia era mostrar a forma discricionária que as verbas eram
destinadas. A maior parte vai para as cidades mais populosas, onde a
densidade de eleitores é maior. A base do estudo são as informações do
banco de dados Siga Brasil, no site do Senado Federal.
Apesar de indicar a existência de cidades que não recebem
emendas individuais há onze anos, a própria CNM afirma que as cidades
podem receber as emendas "guarda-chuva", na qual o município beneficiado
não é identificado no Orçamento Geral da União.
SANTA AMÉLIA
Eleito pela primeira vez prefeito de Santa Amélia, Jarbas
Carnelossi (PV) diz que a cidade não tem nenhuma obra em execução com
recursos oriundos de emendas parlamentares. "E, pelo que acompanho nos
últimos anos, acho que também não tinha, porque não vi nada sendo feito
aqui", afirma.
A cidade, que tem 3.803 habitantes, segundo o Censo Demográfico
de 2010, tem orçamento para este ano no valor de R$ 11 milhões, dos
quais R$ 250 mil são de arrecadação própria com taxas e tributos.
A baixa arrecadação torna o município totalmente dependente das esferas estadual e federal para investimentos.
De acordo com o prefeito, o município vai receber verbas para
construir uma unidade de saúde e aquisição de três vans e um carro para o
setor. Porém, o dinheiro é do governo estadual. Pelo governo federal, a
cidade deve receber maquinários para infraestrutura.
Apesar da ligação com deputados estaduais e federais, Carnelossi
afirma que há dificuldade para cidades pequenas conseguirem verbas de
emendas parlamentares. "Acho que as cidades pequenas ficam mais
esquecidas porque o retorno eleitoral é menor. Aqui tem 3 mil eleitores e
vários deputados, que acabam dividindo os votos. Então, têm menos
interesse de lutar por municípios menores", avalia.
Santa Cecília do Pavão
Opinião semelhante tem o prefeito de Santa Cecília do Pavão,
Padre Zezinho (PPS). Em sua primeira gestão, à frente de um município de
3.646 habitantes, ele já sente certa discriminação no tratamento às
menos povoadas. "Acho que há pouco interesse político pelas cidades
pequenas, talvez pelo pequeno número de eleitores", diz.
Ele diz que não sabe se a cidade ficou dez anos sem receber
emendas, mas afirma que há obras, como recapeamento de ruas, que são
executadas atualmente por meio de verbas individuais propostas no
Orçamento por Alex Canziani (PTB).
Entretanto, nos últimos três anos, não há, no banco de dados do
Siga Brasil, emenda particular do parlamentar direcionada ao
município, apesar de haver verbas direcionadas, entre outros, para a
infraestrutura das cidades. No banco de dados, a localidade consta
como "Paraná (Estado)", o que pode respingar no município.
RANCHO ALEGRE
O mesmo ocorre com a cidade de Rancho Alegre, de 3.955
habitantes. O prefeito Edson do Banco (PV) afirma que a cidade está
ampliando um posto de saúde com emenda de André Vargas (PT). Porém,
também no Siga Brasil, não consta verbas direcionadas especificamente
para o município. Nas descrições, consta apenas "No Estado do Paraná".
Mais político, Edson diz que não sente dificuldades em conseguir
atenção dos deputados federais. "Se tem um desempenho bom (nas urnas da
cidade), ele vai olhar por você. E também precisam dos votos de todas
as cidades, inclusive as pequenas, para se eleger", afirma.
NOVA AMÉRICA DA COLINA
A Prefeitura de Nova América da Colina, Alexandre Basso, confirmou o
recebimento de R$ 220 mil, do Deputado Federal Alex Canziani, para compra de um caminhão e trator; mais R$ 200 mil, também por emenda de Alex para a área da agricultura ou saúde; R$ 250 mil para padronizações de calçadas, por
intermédio de emenda assinada por Nelson Padovani. O caso, entretanto, é
mais um, de emenda guarda-chuva: a cidade vai receber pouco mais de
10% dos R$ 2,4 milhões destinados por ele para obras de infraestrutura
" no Estado do Paraná".
Porém, o prefeito Alexandre Basso (PSDB) não soube responder se
há emendas individuais destinadas à cidade entre 2002 e 2012. "Não deve
ter tido, já que estava tudo paralisado", afirma.
Mesmo depositando confiança em parlamentares mais próximos,
Basso diz que é reclamação corrente, em rodas de prefeitos, o fato de
valores altos irem sempre para as cidades maiores, em detrimento dos
pequenos.
Desigual
O professor de Ciência Política da UnB
(Universidade de Brasília) David Fleischer afirma que a forma como são
distribuídas as emendas parlamentares gera um desenvolvimento desigual
das cidades. "Tem alguns esquecidos e outros beneficiados demais."
O especialista diz ainda que, da forma como o orçamento
impositivo está sendo debatido no Congresso Nacional, essa desigualdade
tende a piorar. Isso porque a obrigação de execução será apenas das
emendas e não do Orçamento todo – há ministérios que não atingem
metade dos investimentos previstos no ano de execução. Com isso, as
cidades que concentram mais emendas terão investimentos intensificados,
enquanto outras seguirão sem recursos.
"Acho que não deveria haver emendas, mas um fundo para
aplicação nos municípios e mais propostas estaduais. Isso seria, no meu
ponto de vista, mais eficaz para o desenvolvimento igualitário", defende
Fleischer.
Fonte: Folha de Londrina
com informação de Daniel Assis
Fonte: Folha de Londrina
com informação de Daniel Assis
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