CONGRESSO NACIONAL
Câmara aprova primeira medida do ajuste fiscal
Medida provisória torna mais difícil
concessão de seguro-desemprego, abono salarial e benefícios para
pescadores. Com panelaço e protestos da Força Sindical, oposição diz que
PT “traiu” trabalhador para promover ajuste
Depois de quase dez horas de sessão e muita gritaria de deputados e manifestantes, deputados aprovaram há pouco a Medida Provisória 665/14, que torna mais rigoroso o acesso a direitos trabalhistas ao alterar regras de concessão de benefícios como seguro-desemprego (veja tabela abaixo). A matéria, que compõe o conjunto de ações de do governo, passou por margem apertada de votos: 252 votos a 227, em mais uma demonstração das dificuldades que a gestão Dilma Rousseff tem encontrado no seio da própria no Congresso.
Depois de quase dez horas de sessão e muita gritaria de deputados e manifestantes, deputados aprovaram há pouco a Medida Provisória 665/14, que torna mais rigoroso o acesso a direitos trabalhistas ao alterar regras de concessão de benefícios como seguro-desemprego (veja tabela abaixo). A matéria, que compõe o conjunto de ações de do governo, passou por margem apertada de votos: 252 votos a 227, em mais uma demonstração das dificuldades que a gestão Dilma Rousseff tem encontrado no seio da própria no Congresso.
A MP seguirá para a análise do Senado tão logo sejam apreciados os
últimos destaques apresentados ao texto principal – são 13 as
pendências, que podem alterar o que foi aprovado. Por acordo de
lideranças, esses textos separados serão votados amanhã (quinta, 7). Um
dos destaques definirá os prazos a serem obedecidos pelo trabalhador
para então solicitar o seguro-desemprego.
O texto aprovado em plenário foi o relatório elaborado em comissão
especial pelo senador Paulo Rocha (PT-PA). O parecer do petista reduz,
em relação ao texto original da medida, os períodos exigidos para a
concessão do seguro-desemprego na primeira e na segunda solicitações.
No relatório aprovado, o trabalhador deverá comprovar recebimento de
ao menos 12 salários nos 18 meses anteriores à data de demissão para
fazer a primeira solicitação do seguro. Já no segundo pedido, será
exigida a comprovação de nove salários nos 12 meses anteriores. No
terceiro, mantém-se a regra atual: comprovação de recebimento de seis
salários até o dia da dispensa. Nessa questão de prazos, o governo teve
de recuar: a versão original da medida fixava comprovação de 18 salários
em 24 meses no primeiro pedido, e 12 em 16 no segundo.
A medida provisória também altera legislação relativa ao abono
salarial e ao seguro-defeso para o pescador profissional. Defeso é o
período em que se proíbe a pesca para que peixes se reproduzam, deixando
temporariamente pescadores sem sua fonte de renda. O benefício
governamental foi criado justamente para auxiliar esses profissionais
nesse intervalo de tempo. Um dos destaques restantes pretende manter o
pagamento do seguro-defeso nos moldes atuais.
O relatório de Paulo Rocha exige ainda que os trabalhadores
desempregados, para ter direito ao seguro-desemprego, frequentem curso
de qualificação profissional oferecido pelo programa Bolsa-formação
Trabalhador, no âmbito do Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao
Ensino Técnico e Emprego). Outra possibilidade é cumprimento de curso
gratuito na rede de educação profissional e tecnológica, com assiduidade
definida em regulamento em ambos os casos.
De acordo com o Ministério do Trabalho, o texto original da MP 665,
que entrou em vigência 30 de dezembro, reduziria despesas com
seguro-desemprego e abono salarial na ordem, respectivamente, de R$ 30,7
bilhões e R$ 12,3 bilhões. Com as alterações promovidas pelos
parlamentares na medida, a equipe econômica terá de refazer os cálculos,
quando descobrirá uma redução nessa economia.
Panelaço parlamentar
Ao final da votação, oposicionistas e até membros da base contrários à
medida protagonizaram uma cena que, originada na sociedade, tem se
repetido em plenário: o “panelaço”. Dezenas de deputados empunharam
panelas e, entre uma e outra cantoria contra o PT e o governo, fizeram
barulho contra a votação do último destaque ao texto principal.
Apresentado pelo PSB, o destaque foi rejeitado por 234 votos a 229,
com duas abstenções. O texto adicional pretendia estender o direito ao
seguro-desemprego aos trabalhadores rurais avulsos, que trabalham de
acordo com a safra. O texto original garante o benefício apenas àqueles
empregados por prazo indeterminado.
Antes, outro destaque já havia sido rejeitado pela maioria governista, que correu o risco de perder o apoio do PMDB, que cobrava do PT fechamento de questão
sobre a pauta. Resolvido esse impasse, rejeitou-se o destaque o
Solidariedade que visava desfazer as alterações de Paulo Rocha a
respeito do abono salarial. Por 247 votos a 220 e quatro abstenções,
manteve-se no texto da MP, dessa forma, mudanças como a que garante ao
trabalhador o direito ao abono proporcionalmente ao número de meses
trabalhados no ano anterior.
Tumulto
A sessão deliberativa desta quarta-feira (6) teve início ao meio-dia,
depois de a votação da MP 665 ter sido interrompida na noite de ontem
(terça, 5). Desde então, representantes da Força Sindical, liderados
pelo deputado Paulinho da Força (SDD-SP), já se mobilizavam em plenário
contra a aprovação da matéria. Como este site mostrou em primeira mão, além de palavras de ordem os sindicalistas utilizaram faixas, cartazes, carteiras de trabalho e até notas falsas de cem dólares, estampadas por foto de petistas como o ex-presidente Lula, para incrementar os protestos.
Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a todo momento
intervinha e pedia silêncio e “respeito” aos manifestantes. As
reprimendas ora eram respeitadas, ora ignoradas. A certa altura da
sessão, no entanto, sindicalistas se exaltaram com o encaminhamento da
votação e atiraram as cédulas no plenário. Cunha então determinou o
evacuamento das galerias superiores do plenário, onde estavam alojados
os membros da Força, que deixaram o plenário aos gritos de “fora, PT!”.
Mas esse não seria o único conflito registrado durante a sessão. A
certa altura das discussões, um desentendimento entre a líder do PCdoB
na Câmara, Jandira Feghali (RJ), e os deputados Roberto Freire (PPS-PE) e
Alberto Fraga (DEM-DF) descambou para agressões verbais e, não fosse
intervenções de outros deputados, até físicas. Tudo começou depois que o
deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) exigiu punição aos manifestantes que
atiram em plenário as notas de dólar.
Roberto Freire então lembrou que, durante a votação da proposta que
regulamenta a terceirização (PL 4330/04), manifestantes agrediram o
deputado Lincoln Portela (PR-MG) e nenhum deputado do PCdoB ou do PT
defendeu o parlamentar. Depois de algum bate-boca, Jandira e Roberto
Freire se estranharam, quando Alberto Fraga resolveu repreender a
deputada. “Ah, o que que é isso… Mulher que bate como homem tem que apanhar como homem também. Que história é essa?”, disse Fraga.
Depois disso, seguiu-se uma série de manifestações de solidariedade a
Jandira, e deputadas até ensaiaram um protesto feminista. Ela foi à
tribuna, voltou a protestar contra Fraga, que se defendeu, e a votação
teve continuidade. Mas Jandira já avisou que acionará Fraga na
Corregedoria da Câmara por quebra de decoro parlamentar.
Confira tabela sobre MP 665 produzida pela Agência Câmara Notícias:
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