ATIVIDADE PARLAMENTAR
PEC das especializações pagas não passa pela Câmara
Projeto
pretendia apenas dar autorização para as universidades públicas
cobrarem. Muitas instituições não deverão mais oferecer cursos do
gênero.
O plenário da Câmara dos Deputados rejeitou a proposta de emenda à Constituição (PEC 395/14)
que autorizaria universidades públicas e institutos federais a cobrarem
por cursos de extensão e pós-graduação lato sensu (especializações).
Foram 304 votos favoráveis e 139 contrários (mais 2 abstenções), mas
eram necessários 308 votos “sim” para aprovar a mudança na Constituição,
que agora será arquivada. Isto mostra que, a cada dez votos dos
parlamentares presentes, quase sete foram a favor da proposta de mudança
da Constituição para aprovar a cobrança. De todo o plenário de 513
deputados, a grande maioria concordava, portanto, com a tese do autor da
PEC, deputado Alex Canziani (PTB-PR).
A
proposta “autorizava” a cobrança pelos cursos “a critério” de cada
universidade. Pelo texto, aliás, programas de residência e formação de
profissionais da área de ensino não poderiam ser cobrados.
Algumas
universidades públicas já cobram por cursos de especialização, mas a
cobrança é questionada na Justiça com base no princípio constitucional
da educação pública gratuita. A PEC tinha o objetivo de encerrar a
disputa judicial ao autorizar as universidades a cobrar pelos cursos de
extensão e especialização.
Alex
Canziani afirmou que o dinheiro arrecadado com os cursos seria
investido nas instituições. “As universidades públicas, ao longo de
todos esses anos, têm se utilizado desses recursos para melhorar a
graduação. Esses recursos significam melhores laboratórios,
ar-condicionado na sala de aula, melhores estruturas para as
universidades”, declarou.
Canziani
explicou que, depois de várias ações judiciais questionando o
pagamento, algumas universidades decidiram cancelar os seus cursos de
especialização. “E quem perdeu com isso foram os alunos e a sociedade”.
O
fato é que as universidades públicas não são obrigadas a oferecer
cursos de especialização, e sem a aprovação da PEC muitas não vão mais
ofertar, prejudicando os alunos e especialmente os estudantes mais
carentes, que, se quiserem fazer estes cursos, terão que procurar
faculdades privadas e arcar com os custos de mercado.
REPERCUSSÃO RUIM
– A Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e
Municipais (Abruem) reagiu mal à não-aprovação da PEC 395 e concorda com
a declaração de Canziani, dizendo, em nota oficial,
que como as especializações não são financiadas com recursos públicos,
“muitas universidades públicas deixarão de ofertá-los, fazendo com que
esse campo de formação se torne um território exclusivo das instituições
privadas”.
Para
a entidade, o efeito prático da desaprovação da PEC evidencia que a
ação de alguns "defensores das instituições públicas" não passou de um
"tiro que saiu pela culatra". Segundo o presidente da Abruem, Aldo
Nelson Bona, estes defensores comemoram a derrubada da PEC “sem se dar
conta que confinaram ainda mais as instituições públicas, privando-as,
por um lado, de uma interação maior com a sociedade e, por outro,
privando a sociedade do aproveitamento da capacidade formativa instalada
nessas instituições”.
O
Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (FOPROP) também não
gostou da decisão dos deputados e faz coro com a Abruem e Alex Canziani.
Em nota pública,
a entidade diz que a não aprovação da PEC 395/2014 desestimula as
instituições superiores públicas a ofertarem cursos de especialização,
limitando, desta maneira, o acesso de milhares de jovens a uma formação
especializada e de alto nível. “Nossas instituições públicas de ensino
superior estão em plenas condições para oferecer à sociedade cursos de
especialização de qualidade. Trata-se de uma perda enorme para o país”,
assina a entidade, que congrega 241 instituições de educação superior e
de pesquisa de todas as regiões do país e de todos os segmentos
(públicas federais, estaduais e municipais; comunitárias e privadas).
NA FOLHA – A recusa do projeto também chamou a atenção do maior e mais influente jornal do país. Em seu editorial,
publicado no começo do mês, a “Folha de S. Paulo” diz que a defesa do
ensino público e gratuito, “em base equivocada”, acaba por prejudicar
aqueles que mais precisam dele. Para o diário, ensino gratuito faz todo
sentido no ensino básico, “mas é questionável no nível superior, ao qual
ascendem meros 35% dos jovens de 18 a 24 anos”.
A
Folha chama a defesa da gratuidade nas universidades públicas de um
“dogma arcaico” e de “perdulária”. Diz que a esquerda brasileira fica
“agarrada ao chavão da gratuidade” e apartada da lógica. Conforme diz no
editorial, a gratuidade “implica em transferir recursos de todos os que
pagam impostos, inclusive os mais pobres, para os mais favorecidos.
Estes, por cursarem ensino médio em escolas particulares, abocanham uma
fatia desproporcional das vagas públicas”.
Quase
a metade dos universitários brasileiros – lembra o jornal – é
originária das classes A e B, enquanto na média nacional este estrato
representa apenas ¼ da população. #
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