ARTIGO: Os temas “fakes” e a campanha presidencial
Luiz Claudio Romanelli*
“Se cada um cuidasse bem da sua vida e dos seus seria mais eficiente, mas parece obrigatório ser sentinela dos outros” Martha Feldens, editora do Metro Curitiba no twitter
Não bastasse a crise econômica, politica e institucional, o Brasil
vive um momento especialmente preocupante, com a articulação entre
forças políticas tradicionais e milícias formadas a partir das redes
sociais que se unem em torno de pautas retrógradas e radicais. É um
tempo de trevas.
A jornalista Eliane Brum faz uma analise certeira e lucida sobre esse
fenômeno que cresce no país há alguns anos, em sua coluna no El Pais
Brasil, a partir do fechamento da mostra Queer Museum – Cartografia da
Diferença na Arte Brasileira, em Porto Alegre.
Na coluna ela traça uma linha temporal sobre como temas morais foram
pautados em sucessivas eleições, contaminando o debate politico. A
partir daí movimentos (ou milícias como ela apropriadamente os define)
passaram a disseminar suas “bandeiras”, como o fim das cotas raciais, a
Escola sem partido, redução da maioridade penal, fim do desarmamento, e
tantas outras.
O debate sobre os verdadeiros problemas brasileiros foi substituído
por esses temas morais rastaqueras. “Com esse truque de ilusionismo
coletivo se desvia da necessidade de mudar algo muito mais estrutural em
um dos países mais desiguais do mundo”, analisa.
Um ponto essencial para entender como chegamos a esse estado de
trevas em que a realidade e os problemas reais são substituídos por
temas acessórios é o poder de comunicação que pode servir a determinados
projetos de poder.
“O poder destas milícias está em mostrar que são capazes de se
comunicar com as massas e, portanto, de influenciar tanto eleitores
quando odiadores, num momento histórico em que estas duas identidades se
confundem. E este é um enorme poder, que claramente tem sido colocado a
serviço de políticos e de partidos tradicionais”, explica Brum.
Vivemos tempos de intolerância e de ódio que se espalha tal e qual
fogo morro acima no território sem dono da internet e das redes sociais e
com consequências imprevisíveis no campo politico.
A Influência desses movimentos e/ou milícias nas redes sociais –
reverberada pelos meios de comunicação- ainda não pode ser mensurada.
Alguns políticos, como João Dória e Jair Bolsonaro, já perceberam o
poder das milícias e dos tais influenciadores digitais para arregimentar
seguidores e disseminar suas mensagens.
Se ainda não se pode medir com exatidão a capacidade de influenciar e
arregimentar dessas milícias, é um fato inegável que há um
recrudescimento da intolerância, do conservadorismo e autoritarismo no
país, uma onda de direita a exemplo do que acontece também na Europa,
onde partidos de extrema direita avançam com seu discurso nacionalista e
xenófobo.
Preocupante que o discurso de medo e ódio das redes sociais seja
reproduzido nos veículos de comunicação. Aqui no Paraná, essa
direitização chegou ao mais tradicional veiculo de comunicação do
Estado. Para meu espanto, acompanho a desconstrução da imagem do
educador Paulo Freire, a apologia a Bolsonaro e até a reprodução da
acusação de heresia ao papa Francisco.
Que ninguém se engane, disso não resulta coisa boa. O inimigo hoje é a
exposição do Santander em Porto Alegre, a exposição do MAM em São
Paulo, a peça de teatro com um Cristo transgênero, (de mau gosto na
minha avaliação), mas amanhã o alvo do ódio pode ser qualquer um,
inclusive você. Porque como a história nos mostra, o inimigo pode ser
mudado conforme a conveniência. Com consequências também imprevisíveis.
Boa Semana! Paz e Bem!
*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista
em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar,
e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na
Assembleia Legislativa do Paraná.
*ARTIGO DO DEPUTADO ESTADUAL LUIZ CLÁUDIO ROMANELLI NA COLUNA BLOG DO ESMAEL
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